21.12.06

Confissão

sem contigo
comigo
não consigo

20.12.06

Cogito Ergo Sum

Decidi armar-me em parva
E fazer uma introspecção.
Perceber os comos e os porquês,
Perspectivar-me,
Entender-me,
Chegar a uma conclusão.
Fiz-me perguntas pertinentes,
Espremi-me,
Analisei-me,
Vi-me de lado e de frente,
E de tanto tentar olhar para dentro
Quase me virei do avesso.
Segui o método freudiano,
O de Jung,
Woody Allen,
E alguns que nem sabia.
Fiquei cansada,
Zangada,
E com uma dor de cabeça monumental.
Não se fez luz.
Não vi qualquer luz
E só compliquei o que é natural.
Aprendi uma lição:
Eu nunca mais me armo em parva,
Eu nunca mais me meto nisto!
E digo como Descartes:
- Penso. Dói…
Vou descansar!
Mais logo eu existo.
Este é mais um da Encandescente.

14.12.06

13.12.06

Naquela noite que selamos a nossa vontade de nos vermos maiores, o abraço longo de nossos corpos calou para sempre a voz de todos os dias. Nos silenciamos em protesto à ausência futura, a uma não-presença de nós em nós mesmos. Dali em diante, desnudos, secos, talhados.

Dez/05

5.12.06

Nothing Lasts Forever

I want it now I want it now not
the promises of what tomorrow brings
I need to live in dreams today
I'm tired of the song that sorrow sings


I want more than I can get just
trying to trying to trying to forget


I walk to you through winds of fire
and never let you know the way I feel
Under skin is where I hide love
that always gets me on my knees

I want more than I can get just
trying to trying to trying to forget


Nothing ever lasts forever nothing ever lasts
forever nothing ever lasts
forever nothing ever lasts forever

I want it now I want it now don’t
tell me that my ship is coming in
Nothing comes to those who wait
times running out before you're running in

I want more than I can get just
trying to trying to trying to forget

Nothing ever lasts forever nothing ever lasts
forever nothing ever lasts
forever nothing ever lasts forever

All the Shadows and the fields are coming to you
all the Shadows and
the fields are coming to you
All the Shadows and the
fields are coming to you


Echo and the Bunnymen

24.11.06

pra você

descobri que você, apesar da promessa de se afastar, vem aqui todos os dias. saiba: tem muita importância pra mim. mais do que poderia. mais do que desejaria. aproveita que hoje estou generosa e aceita o vinho. tá na temperatura que você adora.



Com ou sem boa vontade, pela vossa alegria, visitai o blog da Morg.

Dulcis

Porque a boca em mim se abriu
Como Bocage grave me saiu
A berrar meu mundo-humor de cão
Mandando à merda a boa educação
Tirar da pena um poema não bonito
Mas esmurrado, roto e fodido
De cada duas rimas pobres em páreo
Rumando todas para a casa do caralho.

21.11.06

Minha pele vermelha

Ainda exalo a cor daquilo que me percorre.
Batizo de lágrimas também esse suco ferroso, essa lava deixando meu peito vulcânico e acinzentando a minha pele.

Hora dessas vou morrer a vida, e pronto.

31.10.06

Em queda livre...

... ao encontro do inevitável.


Amy Hamouda

30.10.06

Em vida

Já tem anos que certas questões relacionadas a passagem do tempo, avanço da idade, realizações em vida e morte inexorável poluem meus pensamentos. Poderia se dizer que ainda não conto com anos para tanto, mas fazer o quê, tenho uma mente enevoada que está sempre tentando encontrar maneiras de abraçar o tal "presente" e vivê-lo carinhosamente em duas de suas várias acepções: a de tempo atual e a de dádiva.
O artigo abaixo foi-me sugerido por uma grande amiga e, como acontecimentos recentes estão criando uma nova linha de objetos que transladam a minha cabeça, resolvi reproduzi-lo por aqui.


Tom e Vinicius

Nos meus tempos de redator, recebi o texto de um repórter sobre Tom Jobim. O texto era bom e foi aprovado com as inevitáveis pinceladas de quem o editou. Mas eu fiquei no meu canto, aterrado, não pelo texto em si, que nada tem de aterrorizante, mas pelo que Tom disse ou deixou que o repórter dissesse por ele.

A pergunta inicial era sobre a morte e foi formulada mais ou menos assim: "Tom, ouvimos dizer que, depois da morte de Vinicius de Moraes, você está preocupado com a morte". A reposta do Tom é simples: "Realmente, depois da morte do poeta, estou pensando muito na morte, descobri de repente que, se Vinicius morreu, é bem possível que todos nós morreremos". Se o autor de "Garota de Ipanema" falou com ironia, o repórter não a captou. A impressão que dá, a quem lê a entrevista, é que Tom nunca tinha lido um jornal, nem visto a página onde se estampam os avisos fúnebres. Precisou que a morte levasse a boa alma do Vinicius para que Tom começasse a desconfiar: "se ele foi, por que não eu?" Foi necessário morrer um poeta para que esse fato tão banal na vida de nós outros entrasse nas preocupações do nosso grande compositor. Há momentos em que nos julgamos eternos. Faz parte de nossa cobiça. Mas, depois dos 30 anos, qualquer mortal que até então se julgou imortal começa a desconfiar que um dia vai para o beleléu mesmo. E, dentro das possibilidades de cada qual, todos se coçam e se arrumam como podem. O corcunda sabe como se deita.

As religiões, em certo sentido, procuram habituar o homem com a idéia da morte. Mas, com ou sem religião, a morte é o fato mais importante da vida, e o homem será sempre um desgraçado enquanto não aceitar placidamente a rudeza, a estupidez e a necessidade de seu próprio fim.

Carlos Heitor Cony

26.10.06

1.9.06

Ofensas II

- "Bebe", a criança, tem acento?
- Tem, no "e".
- Em qual "e"?
- No de "jumento".

Ofensas I

- Ciclo vicioso ou círculo vicioso?
- Circo.

adaptado de perguntar não ofende.

Maçada


Cansa, é uma maçada
Os dias serem dias e terem horas
E as horas serem certas
E certa ter de ser eu no dia e na hora
E viver a hora que bate
Sem poder bater em retirada
Das horas que me aborrecem.
Cansa, é uma maçada
Ter de ser a mesma todo o dia
Correta, cortês, bem-educada:
"-Olá! Como vai? Esta tudo bem? Bom dia!"
Sem poder bater em retirada
E quebrar a harmonia
Das horas certas e educadas
Das horas corretas e banais
Das horas corteses e normais
De que se fazem os dias.
E viver sem tempo e sem horas
E viver sem nós ou espartilhos
As horas que são as minhas horas!


E essa Encandescente incendeia qualquer um, tem que ver...

29.8.06

Olha a mala aí

Clarice Virgínia. Nem discutimos a conveniência do nome quando foi escolhido. Adequado pela geniosidade, o temperamento inquietante, sempre na iminência de rasgar a roupa e sair pelas ruas gritando. Mas gatos não usam roupas, não a minha, e mesmo que assim fosse, esta jamais me permitiria importunar sua doutrina naturista.

Não me lembro de ter lido sobre a afeição que esses felinos domésticos criam por quem cuida de sua toillet, ao contrário dos cachorros, que primam mais por quem lhes garante a ração na vasilha. Digo isso sem a mesma propriedade de uma Lygia Fagundes Telles, que além da escrita aparentada com o mundo sensível de Platão, traz ricas experiências de sua conviva com esses bichanos. Minha constatação vem mesmo da livre observação e dos momentos intensos, ainda que poucos. CV tem menos de dois anos e é o meu primeiro exemplar.

Pois que foram meus olhos os responsáveis pela cura do meu coração, que andava já fervendo de dor-de-cotovelo e indignação ao me ver sendo deposta do cargo de mãe por ninguém menos que vovó e vovô, ou seja, meus próprios pais. Me senti sendo interditada. Em pouco tempo concluí, no entanto, que era eu a culpada pelo Golpe de Estado. Era eu que estava faltando com as obrigações exigidas pelo posto e nem me dera conta. “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”. Se CV pudesse cantar, certamente seu miado levaria esta toada.

Estavam vovó e vovô com os colos disponíveis o dia todo; vovó e vovô é que agora ofereciam pés e canelas para os arranhões da tocaia matinal; vovó trocava a água e mantinha a vasilha sempre cheia; vovô conversava e aconselhava a se manter longe dos perigos. E o mais importante: já não era mais mamãe que limpava xixi e cocô da criança, e sim vovó. Perdi.

Realmente não pensei que me manter distante das necessidades fisiológicas de CV faria tanta diferença em nossa relação. Continuavam os beijos, os abraços, a brincadeira do cordão, os melhores esconderijos, as costas arranhadas, mas... Faltava algo. Para ela, a completude afetiva e emocional estava nas coisas mais simples, nos cuidados mais primitivos, no aconchego de se sentir mesmo em casa, coisas com as quais sem querer me despreocupei ao longo dos dias.

E assim eu me assemelhei a tanta gente por aí, que tem na vida o diz tanto querer, mas não repara na verdade e nas vontades do outro. Espero que, do alto de sua magnificência felina, Clarice Virgínia um dia me perdoe.

Un passant

Tarde amena, solzinho do meio-dia entre nuvens, almoço com amigos de trabalho. Esticada no café da Fnac e quinze minutos restantes para comprar mais um presentinho para o filho que faz três anos.

- Este aqui sim, Marta, DVD dos Teletubbies. Ele vai amar!
- Que isso, Cris, tá maluca? Nem pensar, Marta. Se seu filho assistir a essa groselha, corre sério risco de virar gay.
- Gay? Verdade?!

Testa enrugada, lábios mordicados... Mais 5 segundos de reflexão depois, Teletubbies no carrinho e fila do caixa.

- Olha, antes gay do que padre, viu...




19.8.06

Isso não é um lamento


Karmo

É mais fácil é levantar o tapete do outro e apontar a sujeira dele que fazer faxina na própria casa, ahn?


15.8.06

Amo(igo)

Pois bem, este post é a Tata quem me inspira.

Falar de amigos, coisa que nem sei fazer direito porque sempre acreditei que sobre eles não é preciso comentar, apenas compartilhar. Não se fala mal, simplesmente se afasta quando os assuntos desafinam, quando as idéias são quase todas incompatíveis. E nem bem, pois carregá-los no colo pra lá e pra cá em qualquer ocasião já diz o quanto nos são caros, imprescindíveis. Por minha parte, tamanha sorte me foi legada por boas ações de vidas passadas que nesta desfruto de colos, lenços, tequilas, vômitos, Clarice, João Cabral, chazinhos, Secos e Molhados, gelinho nos lábios, gargalhadas... Tudo vivido com gente de prima qualidade.

"E reclama tanto da vida, como pode"?

Ah, estratégia pra mantê-los sempre alertas!




2.8.06

Sabe aquela música que você deseja sua, só sua, de mais ninguém?


Composição: Cazuza / Frejat

Eu hoje tive um pesadelo e levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo e procurei no escuro
Alguém com seu carinho e lembrei de um tempo
Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo

Hoje eu acordei com medo mas não chorei
Nem reclamei abrigo
Do escuro eu via um infinito sem presente
Passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim, que não tem fim
De repente a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua
Que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio mas também bonito
Porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu
Há minutos atrás

Na voz do Ney, sempre...

28.7.06

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Drummond

8.7.06

Baús

Os torpedos: ficam, recebidos e enviados.

Perfume empregnado no casaco esquecido: deixa assim.

Ticket de cinema na carteira: fica lá. Como as fotos.

"oi" nos e-mails, uns 17: arquivados.

Dinheiro achado no bolso da calça: sorriso espremido.

Rêgo torto da saia: espasmo.

Que asma. Quiasma.

23.6.06


Não tô desesperada. Apenas desesperançosa, esta é a palavra.
Eu juro que tento não mergulhar de vez nesse espírito verde-amarelo tupiniquim, não aguardar pelo jogo roendo unhas e dedos, não explodir com os fogos que estouram na porta de casa, não comer pipoca compulsivamente... Mas acontece, fazer o quê. E aí eu me culpo e me xingo ainda mais por ver que minhas angústias não cessam ao fim de uma partida com vitória, pelo contrário. Aumentam ao perceber que a gritaria desmedida, o incentivo telepático, os elogios por dois ou três passes sem erros do Ronaldinho Gaúcho e, claro, as duas bolaças na rede do Ronaldo, ainda não me fazem acreditar que a taça do mundo é nossa. Parreira me confunde desde 94 com esse esquema tático ilógico que faz dos nossos contra-ataques um passeio de quasímodos pelas margens do Sena.
Lento, confuso, truncado está o nosso futebol. E isso me faz lembrar da vida. Da minha, claro. E de como ando descuidando da pobre para vestir uma camisa sem dono e sem suor.

6.6.06

Estou ainda no meio de um grande estádio de futebol tendo o jogo já terminado. Nas arquibancadas, só a sujeira sentada, copos de plástico, latinhas de Brahma, guardanapos vermelhos, pão, salsicha. Ao longe, ouço o grito de bondade, “sai fora, doente, hoje não tem mais nada”, mas e daí, eu nunca assisto às partidas. Plantei-me aqui no meio do campo só para ver de perto a doce violência das chuteiras levantando a grama.

18.5.06

Novas

A vida?

Tal qual este blog, anda mais ou menos assim:
sem conteúdo e sem sentido.

Vê-se que deu uma melhoradinha...

4.5.06

Passantes

Dezenas de rostos e braços e passos no asfalto duro da minha tarde de almoço sem fome. Sem fome, sem sol, sem companhia, só essa gente passando me enche a vista. E as lágrimas.

2.5.06

Certos brotos nascem com um tipo de veneno tão raro quanto aniquilador. Este é o caso dos brotos de aspargos.
Não tente alegrar a apatia de suas folhas nem descobrir onde se escondem suas verdadeiras cores, seus verdadeiros frutos, ou pode se contaminar com a verde melancolia dessas plantas. Sua ingestão acidental causa olheiras, náuseas, dor, covardia, medo, frustração. Será você um ser com vontades de não ser, eternamente, acredite.


Ficar sozinha comigo tá me dando um medo louco...

20.4.06


Tua partida -
Minha doença anunciada.




Tua falta -
Minha morte continuada.


Foto: Margarida Delgado

13.4.06

Afluente

Flutua
Sobre a água imponente
Ingênua
A conduzir tranqüila a torrente
Copiosa
Sem saber-te tão imponente
Agressiva
No ímpeto de inundar planícies minhas
E derramar-te no leito meu.

Rasga-me
Alarga-me as margens
Da expansão
Sufoca-me a dor com a tua densidade
Regalo meu.

Teu curso infinito
A espalhar-se no mundo
Ouso
Retiro as barragens
E permito-te partir
Até a nossa próxima estação
Desvario meu.

6.4.06

Esforço

Nunca uma única
Somente uma

Dose de overdose
E festejaria na cama
A cama da dança
A dança da solidão.

Já não tenho intimidades.


31.3.06

Tempos modernos

Se Maomé não vai a Brokeback Mountain,
também não vai um dos cowboys a Maomé.



30.3.06

Os ombros suportam o mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.


Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.


Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Drummond, in Sentimento do Mundo

28.3.06

Deixe-me ir, preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Quando eu me encontrar.


Candeia

27.3.06

Esperanças III

Só uma frestinha, fiozinho curto de luz, uma faísca... e eu começaria tudo de novo.

24.3.06

karmo.com.br

Momentos II

Tempo de casa cheirando a tempero do Nordeste, o tal do coloral eles diziam. Vó, ela mesma, ia pegar as sabiás, vinha com dois sacos cheinhos, tirava uma a uma, destroncava, passava no fogo pra depenar... E tinha o arroz. Era quando a gente mais comia arroz, por causa do caldo das sabiás. O canto mudo saindo da panela e ensurdecendo a gente, ô melodia bonita. Era o paraíso servido à mesa.

14.2.06

Momentos I

Em nosso quintal, cada um dos caquinhos de cerâmica tinha a sua flor dançante. Bem regadas nos dias de banho de mangueira, balançavam caules, folhas e pétalas no mesmo ritmo de brisa de nossas gargalhadas, dispersando o perfume de uma feliz felicidade.

24.1.06

Esperanças II

Ave sôfrega que percorre as alturas batendo asas ao som de um sopro. Um sussuro na direção oposta e, confusa, cai a ave sobre o mar. Espumas de sal à beira de minha praia particular servem-lhe de colchão e celebram sua chegada.

17.1.06

Esperanças I

Que eu não retroceda por medo de uma quase certa solidão.