Dezenas de rostos e braços e passos no asfalto duro da minha tarde de almoço sem fome. Sem fome, sem sol, sem companhia, só essa gente passando me enche a vista. E as lágrimas.
“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade. Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. […] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.” Clarice Lispector in Aprendendo a Viver .
3 comentários:
Preencha as vistas somente com essa gente passando...
Ai, cada gente estranha, Tata, eu hein...
É a décima quarta vez que eu leio este texto... não consigo parar de me ver nele...
Ainda mais com essa descrição perfeita...
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