23.6.06


Não tô desesperada. Apenas desesperançosa, esta é a palavra.
Eu juro que tento não mergulhar de vez nesse espírito verde-amarelo tupiniquim, não aguardar pelo jogo roendo unhas e dedos, não explodir com os fogos que estouram na porta de casa, não comer pipoca compulsivamente... Mas acontece, fazer o quê. E aí eu me culpo e me xingo ainda mais por ver que minhas angústias não cessam ao fim de uma partida com vitória, pelo contrário. Aumentam ao perceber que a gritaria desmedida, o incentivo telepático, os elogios por dois ou três passes sem erros do Ronaldinho Gaúcho e, claro, as duas bolaças na rede do Ronaldo, ainda não me fazem acreditar que a taça do mundo é nossa. Parreira me confunde desde 94 com esse esquema tático ilógico que faz dos nossos contra-ataques um passeio de quasímodos pelas margens do Sena.
Lento, confuso, truncado está o nosso futebol. E isso me faz lembrar da vida. Da minha, claro. E de como ando descuidando da pobre para vestir uma camisa sem dono e sem suor.

6.6.06

Estou ainda no meio de um grande estádio de futebol tendo o jogo já terminado. Nas arquibancadas, só a sujeira sentada, copos de plástico, latinhas de Brahma, guardanapos vermelhos, pão, salsicha. Ao longe, ouço o grito de bondade, “sai fora, doente, hoje não tem mais nada”, mas e daí, eu nunca assisto às partidas. Plantei-me aqui no meio do campo só para ver de perto a doce violência das chuteiras levantando a grama.